Tantas coisas eu já pensei vivenciando e relembrando essas cenas dos meus filhos que ainda me falta tempo para digerir tudo o que isso me inspira. Hoje eu consegui colocar para fora a cena em si... hipotética e intuitiva... uma cena-modelo, digamos assim, do aprender a andar. Por enquanto, é isso.
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"É espantoso observar todo o processo que leva um bebê a andar: ele se agarra em algo e com a força dos braços e das pernas fica de pé... não dá para acreditar que aquelas perninhas vão segurar o peso do corpo... parece que vão se curvar... mas ele se sustenta... cambaleia... as pernas tão acostumadas a ficarem dobradas vão se aguentar estendidas?... o bebê nem pensa nisso... está de olho num objeto próximo... "ele terá coragem?", pensa quem olha... estende a mãozinha para calcular a distância... quase não se pode acreditar que ele vai conseguir movimentar uma das pernas que o sustenta... mas ele a movimenta... cambaleia... "ele terá coragem?", pensa de novo quem olha... o bebê solta uma mão... pezinhos tão pequenos para um corpo tão grande por cima... movimenta a outra perna... cambaleia... se quiser chegar ao alvo, terá que movimentar a única mão que o apóia... "ele terá coragem?", pensa novamente a única pessoa que está pensando na cena... conseguir manter o corpo ereto e se locomover com somente duas pernas parece tão fora de todos os padrões da física... parece tão óbvio o fim trágico... tão instável... "por quê? pra quê?", pensa a única pessoa da cena que quer respostas ou motivos... de repente... ele solta a outra mão! ele solta a outra mão!... movimenta novamente uma perna e outra e seus braços abertos se agitam como se procurassem um apoio imaginário... parece tão improvável que a reação instintiva de quem vê a cena é ir segurá-lo... surpreendentemente ele não volta atrás... meio desengonçado, meio torto, meio sem jeito... ele... cai! O bebê cai!... e chora... e chora... e olha para um objeto ao lado... e se aproxima dele... e agarra o objeto com a força dos braços e das pernas e fica novamente de pé... e faz tudo e.xa.ta.men.te igual... como se não tivesse caído antes... como se não tivesse chorado... como se não tivesse doído... até que num momento qualquer ele segue... um passo... outro... não cai... mais um... e pronto!... chegou ao alvo inicial!... andou!!! afinal, é perfeitamente possível andar sobre duas pernas!... com o tempo, vai ser até fácil e natural! Nosso bebê conseguiu andar! Isso não diz muito sobre a espécie humana???"