Ouço muitas vezes as pessoas dizerem que algo aconteceu com elas para que pudessem ter aprendido determinada coisa. Eu penso ser o contrário... Acho que em cada experiência que temos podemos apreender um monte de coisas, mas só nos chama a atenção aquele aspecto a que estamos mais sensíveis.
Hoje posso lembrar de diversas situações em que poderia ter percebido que o melhor seria manter o Dudu na mesma escolinha por mais um ano, mas foi só no final do ano passado, quando fui informada de que talvez não houvesse vaga para o Dudu na escola que queria matriculá-lo, que essa questão da "necessidade" de mudança se colocou e eu pude refletir sobre ela. Ainda bem que isso aconteceu a tempo e ainda bem que eu me permiti a reflexão e, posteriormente, a mudança de opinião.
Ficou assim na minha cabeça: as escolas "grandes" (no sentido de que vão até o ensino médio) que me agradaram aceitam as crianças a partir dos 4 anos. Logo, o Dudu mudaria de escola com 4 anos. Infelizmente, não fiz grandes questionamentos sobre isso naquele momento. Essas duas escolas "grandes" me pareceram atrativas e igualmente interessantes.
Na primeira, havia atividades no currículo normal pouco usuais, como flauta doce e marcenaria. Olha que fofo! Normalmente, essas são opções extra-curriculares (quando oferecidas). Outro ponto positivo era a localização (importante em se tratando de uma cidade como São Paulo). Me chamou a atenção na reunião que eles fazem para apresentar a escola aos pais interessados, a maneira um tanto "seca" com que a diretora se relacionou com os pais e o "jeito" com que mostrou a escola - por momentos, cheguei a pensar que ela estava nos fazendo um favor. Entretanto, isso me pareceu um detalhe na ocasião. Até porque, 90% das crianças da sala do Dudu tinham irmãos mais velhos que estudavam nessa escola e as mães me diziam maravilhas sobre a filosofia de trabalho da escola.
A segunda escola visitada tinha uma área es.pe.ta.cu.lar; oferecia muitas opções em termos de arte e esportes - coisa que valorizo numa escola porque expande os horizontes dos alunos e, minha opinião, favorece um olhar mais objetivo e consciente para a função do estudo. Na reunião de pais para apresentar a escola, diferentemente da anterior, havia uma evidente preocupação em se dar a conhecer. Por outro lado, para chegar até esse "paraíso", há um dado de realidade fortíssimo: o trânsito! Implacável.
Bem, ficamos com a primeira escola. E ficamos esperando sermos chamados em outubro de 2010 para compor a classe do Jardim I de 2011. Porém, nada acontecia. Resolvi ligar e me informaram que o Dudu era o décimo oitavo na lista e que faltavam vinte vagas para serem preenchidas. Boa, pensei. Era só uma questão de tempo. Dez dias depois, nenhum telefonema. Liguei novamente. Faltava uma vaga e o Dudu era o oitavo da lista! Alerta vermelho!!! Que espécie de matemática era essa que eu não conhecia??? Diante dessa situação, o Pedro e eu passamos a pensar em outras possibilidades. E é aí que está todo o encanto das situações que geram instabilidade: dão um frio na barriga, geram muita apreensão, nos fazem pensar que não temos saída e que aquele é o fim e, com isso, fazem a gente pensar, provocam, nos tornam mais conscientes das nossas vivências.
Comecei a repensar as escolas que visitamos, pude olhar com mais cuidado para as impressões negativas que tive da primeira escola, revisitei a segunda escola, conversei com mais calma e com um olhar mais crítico com a diretora da escola do Dudu, consegui perceber o óbvio, que as escolas aceitavam crianças a partir dos 4 anos, mas o meu filho não precisava ir pra lá com essa idade, refleti sobre o que seria melhor para o Dudu - o desafio de uma escola nova com outras exigências para as crianças ou a segurança da escola pequena a que ele já estava habituado... refiz todo o processo de escolha da escola mentalmente.
Numa das ligações que fiz para a escola para falar sobre a possibilidade da vaga, falei da minha preocupação com o fato de toda a sala do Dudu, praticamente, ter ido para essa escola e que ele não acompanharia o grupinho. A funcionária da escola ficou apreensiva com essa informação e perguntou qual a escola do Dudu. Quando respondi, ela se mostrou bastante preocupada e alegou que os alunos dessa escola têm prioridade lá e que ela não tinha essa informação da escola de "origem" - o que sinalizava para a qualidade da escola em que o Dudu estava. Entretanto, se nesse dia não havia vaga para o Dudu, contrária a universalidade da matemática, no dia seguinte, milagrosamente, ops!, surgiu uma vaga para ele. Em outras palavras, primeiro a escola "passou" crianças na frente do Dudu, depois passou o Dudu na frente de outras crianças. Seria esse o tipo de escola que queria para o meu filho? Recusei a vaga. Disse que tinha decidido matricular a minha filha na mesma escola em que o Dudu estava e que seria mais fácil mantê-lo lá também. No próximo ano decidiria a mudança. Acho que ela não gostou, mas eu gostei muito.
Fiquei pensando no Dudu... achei que seria importante para ele continuar naquela escola que eu gostava tanto e que sei que ele também gosta, se sente bem. Achei que seria importante para ele ficar na sala dos "grandes". Achei que seria importante para ele ser um dos mais velhos da turma e poder desfrutar da segurança e confiança dessa posição. Achei que seria importante para ele descobrir novos amigos e entrar em contato com os amigos que ficaram na escolinha também e que ele não teve oportunidade de brincar no ano anterior. Enfim, em 2011 o Dudu continuou na mesma escolinha tão querida! As conversas com a diretora dessa escola me ajudaram muito nesse processo - lúcida, sensível e cuidadosa.
Nos dois primeiros dias de aula, ele ficou um tanto quieto e meio tristonho... perguntou dos antigos amigos... não queria que eu fosse embora da sala quando ia deixá-lo lá... fiquei com o coração na mão... Será que tinha feito a coisa certa? Quanta dúvida e culpa... No final dessa mesma semana, fui buscar o Dudu na escola. Ele estava brincando no jardim. Sorria. Era um sorriso confiante e seguro. Comentei com a professora e a diretora, que me disseram terem tido a mesma impressão. E foi assim durante o ano. Acho que ele adquiriu mais autonomia na escola, mais confiança em si mesmo, fez novas amizades - com amigos do ano passado e com crianças recém chegadas. Fiquei muito satisfeita e feliz pela decisão. Essa é uma boa sensação.
Acontece que agora é hora do próximo passo, até porque onde ele está já não há turmas para os 5 anos. Vendo essa evolução do Dudu, me sinto também mais confiante na decisão de levá-lo para outra escola. Acho também que mesmo que o mantivesse onde está, ele iria para outra escola com 6 anos, no início do processo de alfabetização - hora não muito propicia para mudanças desse porte.
E para onde ele vai? Para a segunda escola! Durante esse ano, também eu descobri novas mães, avaliei com mais segurança as escolas que tinha em mente, parti de outra base de comparação - agora eu tinha um dado bem objetivo e pessoal sobre a primeira escola. Ouvi outras versões não muito favoráveis sobre a primeira escola e tive boas referências sobre a segunda - de ex-professoras de lá, de ex-alunos e de mães de crianças de lá. Visitei novamente a escola com o Dudu. Concluí que a escola enfatiza vários aspectos do desenvolvimento - tem uma formação curricular sólida, reconhecida internacionalmente; se preocupa com a inserção do aluno no mercado de trabalho; oferece várias oportunidades consistentes nesse sentido; mas também é referência nas artes (tem um dos melhores teatros da América Latina); e tem uma estrutura excepcional para os esportes, com destaque também nessa área. Minha sensação com isso é que estou ampliando os horizontes e as possibilidades para o Dudu.
Fiz a matrícula em setembro. Levei o Dudu para uma vivência que avaliaria o nível de alemão dele para podermos decidir se o melhor para ele seria o currículo brasileiro ou o currículo alemão. Estou aguardando essa resposta com muita tranquilidade. Depois registro aqui o resultado - que não precisa ser definitivo, uma vez que, como me garantiu a escola (e as ex-professoras com quem conversei), se eles observarem a necessidade de mudança durante os anos seguintes, me comunicarão. Óbvio que o ideal é que isso não seja preciso, mas é bom saber que a escola não é rígida e está aberta às especificidades de cada aluno. Quem "me ver", verá!
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