terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hiperconectividade*

Quando eu fiquei grávida do meu filho, meu marido e eu recebemos um cartão de um casal de amigos mais velhos com uma única frase: "Esta será a maior transformação das suas vidas". Definitivamente, eles não precisavam escrever mais nada. É isso. Não é à toa que repito essa frase para todos os amigos que engravidam.

Nada fica igual depois que filho(a) chega. Você se vê repartida, ao mesmo tempo em que se torna mais inteira. É a mulher que se transforma. É a esposa que muda. É a mãe que se descobre. É a filha que se recoloca. É a profissional que se reposiciona. Tudo retudo. E se não for assim (porque não se sabe ou não se quer saber), tanto pior.

Filho(a) mexe com o que há de mais primitivo na gente. Filho(a) apresenta você para você mesma. Filho(a) nos expõe a nós mesmos. Filho(a) é a oportunidade de ver o que há de pior em você. Filho(a) é a oportunidade de ver o que há de melhor em você. Filho(a) é a vontade de ser alguém melhor.

Por isso que dizem que só sendo mãe para saber o que é ser mãe. É uma aventura pessoal e intransferível. Nenhuma situação na vida se compara em complexidade. Mesmo quando tudo isso escapa da consciência. Porque mãe não é da ordem do racional. Mãe é da ordem da emoção. É instinto - é o que sinto; é desejo - é o que anseio; é pulsão - com pulso acelerado e desacelerado; é o que vejo - e o que eu não vejo.

Mãe é quando a rotina é sinal de amor. Mãe é quando o cuidado existe mesmo quando se está cansado. Mãe é quando educar às vezes dói (nela e no(a) filho(a)). Mãe é. Apesar disso ou daquilo. Mãe sofre. Mãe ri. Mãe chora. Mãe se irrita. Mãe vibra. Mãe tem que deixar de ser filha.

E mesmo com tudo, mesmo apesar de tudo, mesmo contra tudo, mesmo assim, mãe não sabe se está certa. Mãe guia o(a) filho(a) por um túnel escuro, sem saber bem pra onde, sem saber por que, sem saber por onde, sem saber como (mesmo quando sabe). Mãe só guia. Confia. Enquanto caminha, aprende e ensina.

Mãe segura na mão e depois tem que aprender a soltar pra depois ensinar a soltar. Mãe tem que aprender a dizer não para si mesma, pra depois dizer não. E tem que aprender a dizer sim. E tem que aprender se faz assim - até quando não sabe.

E tudo o que acontece na caminhada e na chegada se volta pra ela. Mesmo que ninguém repare. Mesmo que ninguém separe. Mesmo que ninguém se importe. Mesmo que ninguém reclame. Mesmo que ninguém a chame. Mesmo que todo mundo repare. Mesmo que todo mundo separe. Mesmo que todo mundo se importe. Mesmo que todo mundo reclame. Mesmo que todo mundo a chame.

A calma acalma
O braço abraça
A perna levanta
O canto encanta
O colo acolhe
O olho espellha
O grito irrita
O choro chama
O coração inflama
O quadril enquadra
O ombro aguarda
O peito é o leito
O nariz fareja
A boca na bochecha
A mão contorna
O corpo entorta
Mãe é um corpo que se mantém conectado
Mesmo depois do cordão umbilical ter sido cortado.

Mão não é só isso, mas isso tudo é mãe.



*Texto escrito por mim em 03 de setembro de 2010.

. . . . . . . . . .

15 comentários:

  1. Karol, agora é a minha vez de falar: esse é o seu post mais bonito!!
    Sei que não é a mesma coisa, mas que dá uma vontade de ser pai, isso dá!
    Bjão

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  2. Oi Karol,
    Ainda não passei por essas experiências, mas estou prestes...
    Muito bonito o seu texto, confesso que fiquei me imaginando em várias situações. Parabéns!
    Bjs
    Camila Voss

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  3. uauuuu...tava realmente inspirada....vc eh demais..eh a melhor!! te adoroooo karol

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  4. Karol, juro que quase chorei; se fosse menos macho derramaria uma lágrima com certeza...rs. Sério Karol, incrível o texto, muito inspirador e, sem dúvida, do fundo do coração. Tudo de bom para você e sua linda família. Abs.

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  5. Karol,
    Como eu não sou "macho" como o Léo, permiti que os meus olhos se enchessem de lágrimas! rs
    O seu texto é lindo e deixa evidente o seu grande amor de mãe! Parabéns!
    Ah... e a Camila aí de cima é a minha irmã, que descobriu que está grávida na semana passada! O Tiago não perdeu tempo e enviou o endereço do seu blog para todas as mulheres da família! rs
    Beijos!

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  6. Tiago, já é a segunda vez que vc fala sobre sua parternidade aqui... tô achando que não demora...rs

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  7. Olá, Camila! A Renata já bateu sua ficha aqui embaixo. Bem vinda ao clube!!! Pois o que eu tenho pra te dizer é: Essa será a maior transformação da sua vida!!!
    E mais não digo, vc logo vai saber porquê.
    Beijinhos para vc e para a barriga!

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  8. Thatá, adoro seus comentários!!!!! ;)

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  9. Léo, obrigada pelas palavras! Vou ter que caprichar mais no próximo texto para ver se consigo arrancar uma lágrima desse coração de pedra!!rsrsrs
    Beijinhos com saudades...

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  10. Renata, que bom que gostou! O texto veio do fundo do útero mesmo...rs
    Menina, que mulheriu fértil na sua família, heim?! Isso aí!!! Eu sou a favor da maternidade! (mas não se preocupe... não vou dizer o que TODO mundo deve estar te dizendo... rsrsrsrs)
    Tiago é meu relação públicas favorito!!!!rs
    Beijinhos grandes e "continuamos esperando vcs por aqui".

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  11. Concordo com os comentários acima...muito bonito esse texto!!
    Beijos!!

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  12. Sou meio "dinossaura dos computers"... só hoje li esse texto, e estou aqui me debulhando em lagrimas...
    Minha irmã, que coisa mais linda é essa,mãe?
    Tenho MUITO orgulho da mãe que eu vejo que vc é, tenho orgulho da pessoa que vc é, tenho orgulho da irmã que vc é. Te amo.

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  13. Obrigada, D! Esse texto vc já conhecia... rs Beijinhos

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  14. Kaia... obrigada!!!! Vc sabe que boa parte do que sou vem de vc e da sua referência... Te amo muito tb. Beijinhos (de útero para útero.rs).

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  15. Obs: Kaia, que fique bem claro que a referência não se dá no quesito "computação"...rs

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